Por Marta Duarte, da agência Lusa
lunes, 24 de diciembre de 2007
Doceria portuguesa conquista prêmio europeu na Grécia
Algoz, Faro, 23 dez (Lusa) - Uma cesta cheia de uma fruta chamada medronho que ninguém diz ser feita de massa foi um dos doces com que uma algarvia conquistou "gregos e troianos" num congresso na Grécia, em que foi premiada a nível europeu. Os elaborados doces de massapão, amêndoa, abóbora e ovos moles feitos por Maria Encarnação Gonçalves deixaram com água na boca o júri de um Congresso de Gastronomia realizado na Ilha de Corfu, que lhe atribuiu o prêmio de melhor artesã alimentar tradicional da Europa. Entre ouriços, cestos de frutas sortidas e verdadeiras "réplicas" de marisco ou ervilhas com ovos, a doceira impressionou de tal forma os participantes no congresso que os franceses chegaram mesmo a propor-lhe comprar tudo. A especialidade de Maria Encarnação é fazer os doces finos, um trabalho meticuloso que, de acordo com a tradição, ganhou esse nome por ser feito com ingredientes caros ou raros. Ainda hoje o quilo de uma figura grande trabalhada em amêndoa custa cerca de 30 euros e até há quem tenha pena de abri-las e comê-las, tal é a perfeição e primor com que são apresentadas. É junto à "Quinta dos Avós", casa de chá que a família dirige em Algoz, entre Silves e Albufeira, que Maria Encarnação se dedica ao trabalho de esculpir os doces em massapão, todos feitos à base de ingredientes caseiros. O espaço onde desde há dez anos se ergue a casa de chá era usado antigamente para guardar o gado e a pequena "fábrica" de onde saem os doces, logo ao lado, o sítio onde se fazia a matança do porco e as chouriças. A "Quinta dos Avós" é um deleite para os sentidos e uma tentação para os mais gulosos, com vitrines recheadas de doces típicos do Algarve, como Dom Rodrigo, beijinhos de freira, morgados de figo, doces de azeite e mel e broas. Foi por conhecer a arte de Maria Encarnação e acreditar que ela teria fortes hipóteses de ganhar que o Grão-Mestre da Confraria dos Gastrônomos do Algarve decidiu propor o seu nome para concorrer a nível europeu. "O mais difícil não foi ganhar, foi convencê-la a ir", graceja José Manuel Alves, confidenciando que o maior medo de Maria Encarnação, também membro da Confraria, era mesmo andar de avião. Mas valeu a pena. A comitiva do Algarve levou uma doçaria "de fazer inveja" e apesar de alguns exemplares terem ficado desfeitos durante a viagem, depressa a equipe pôs mãos à obra e os recompôs. Maria Encarnação confessa que o momento de maior aflição foi quando lhe pediram para fazer um doce ao vivo em dez minutos. Despachada, deu forma a um coelho com uma cenoura na boca que deixou os presentes impressionados. Atualmente, não tem mãos a medir com as encomendas para o Natal, época em que chega a fazer mais de 300 quilos de bolos. "Só uma cliente encomendou 40 figuras", afirma. O problema é que por vezes o reconhecimento "é maior lá fora do que cá dentro", atira José Manuel Alves. Mas nada parece demover a doceira algarvia de continuar a "esculpir" as suas figuras de massapão e amêndoa.
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